Nova lei ambiental pode prejudicar credibilidade brasileira no exterior
Com a aprovação do novo Código Florestal, a
produção agrícola no Brasil pode voltar a ser associada ao desmatamento, já que
a derrubada de árvores pode aumentar com as mudanças na lei ambiental.
Medo é que florestas cedam lugar a lavouras
A mesma plateia que aplaudiu as iniciativas
brasileiras para frear o desmatamento e impulsionar o mundo rumo ao
desenvolvimento sustentável, agora volta a olhar o cenário com preocupação.
"O afrouxamento das leis ambientais para
favorecer a agricultura terá uma repercussão negativa. Afinal, o aumento da
produção (agrícola e pecuária) terá um custo ambiental à custa da Amazônia, que
tem toda essa percepção no exterior", avalia Fabíola Zerbini,
secretária-executiva da Forest Stewardship Council, FSC, no Brasil.
A organização é baseada em Bonn, na Alemanha, e no
Brasil é conhecida como Conselho Brasileiro de Manejo Florestal. O selo da FSC
é encontrado em diversos produtos nos supermercados europeus, originários de
florestas com manejo certificado – com garantia de boas práticas ecológicas,
benefícios sociais e viabilidade econômica.
A Europa, que recebe boa parte dos produtos
agrícolas e da carne de origem brasileira e exige cada vez mais
responsabilidade ambiental, pode voltar a ficar desconfiada. Em conversa com a
Deutsche Welle, Marina Silva faz uma previsão pouco animadora.
"O desmatamento vai aumentar, com prejuízo
para as florestas, para a biodiversidade, para os recursos hídricos e prejuízo
duplo para a agricultura, porque mina as bases naturais do nosso
desenvolvimento e também porque, novamente, o agronegócio brasileiro vai ser
associado ao desmatamento", advertiu nesta quarta-feira (25/05) a senadora
e ex-ministra do Meio Ambiente.
Amarras para agricultura
O tema é controverso. Flávio Viegas, presidente da
Associtrus, Associação Brasileira de Citricultores, diz que o setor é a favor
do novo texto, aprovado na madrugada desta quarta-feira. "E rejeitamos a
pecha de antiambientalistas e destruidores da natureza. A nossa posição é a do
Brasil, de forma geral", disse à Deutsche Welle.
O setor é responsável por 60% da produção mundial
de suco de laranja, e faz do Brasil o campeão de exportações do produto.
Segundo Viegas, o cenário brasileiro de citricultura é composto por 90% de
pequenos produtores, cujas propriedades têm menos de 60 hectares.
Na visão da Associtrus, o Código Florestal vigente,
de 1965, destoa da realidade da agricultura brasileira. "E inviabiliza
muitas atividades. Em Santa Catarina, por exemplo, as maçãs são plantadas em
encostas. O café é plantado em região de encosta em Minas Gerais. Quanto à
produção de leite, os pastos ficam em encostas de montanhas", argumenta
Viegas, se referindo à proibição de atividade econômica em área de proteção
permanente, APP, conforme a lei ainda vigente e prestes a mudar.
Entre os produtores de laranja, o desrespeito mais
comum ao código é a ausência de reserva legal. Segundo a legislação, toda a
propriedade é obrigada a manter uma área de mata nativa que não pode ser
desmatada. O novo texto aprovado pelos deputados isenta os pequenos produtores
da obrigatoriedade de recompor a reserva legal em propriedades de até quatro
módulos fiscais – um módulo pode variar de 40 hectares a 100 hectares.
Na contramão
Marina Silva não se deixa convencer pelos
argumentos dos produtores e vê, ao longo de todo o texto da proposta do novo
código, pequenos incentivos para o aumento do desmatamento. A suspensão do
embargo automático, por exemplo, é um dos pontos citados pela ex-ministra.
Segundo o decreto assinado ainda no governo Lula,
quando o Ibama constatava um desmatamento ilegal, a área em questão era
embargada. "Quem plantasse, comprasse e transportasse os produtos dessa
área era passível também de ser punido. E automaticamente os créditos para os
embargados eram vedados. Agora isso tudo está suspenso."
Para Flávio Viegas, a legislação atual beira a
inviabilidade. "Gostaríamos que esse Código Florestal brasileiro fosse
aplicado em todos os países do mundo, inclusive na Europa, o que seria
inviável. O nível de proteção no Brasil é muito superior ao da Europa. "A
representante da FSC chama a atenção para outro caso polêmico – e que envolve
os europeus: "A China nunca priorizou o meio ambiente, mas todo mundo
continua comprando os produtos agrícolas chineses”.
No caso do Brasil, que propaga internacionalmente
uma postura mais sustentável, o caso pode ser diferente. "Se haverá efeito
comercial, não podemos dizer. Mas pode ser que venham retaliações do campo
público", supõe Fabíola Zerbini.
A decisão final sobre as alterações do Código
Florestal vai passar pelas mãos de quem é considerado o maior plantador de soja
do mundo. Blairo Maggi, empresário e senador, foi eleito pelo Mato Grosso –
estado responsável por 480 km2 do total de 593 km2 desmatados na Amazônia entre
março e abril de 2011, segundo dados de satélites do Inpe. O Senado prevê que a
discussão do texto possa durar até quatro meses, antes de seguir para a sanção
da presidente, Dilma Rousseff.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
Revisão: Roselaine Wandscheer
Nenhum comentário:
Postar um comentário