A superfície da Terra está em
constante processo de transformação e, ao longo de seus 4,5 bilhões de anos, o
planeta registra drásticas alterações ambientais. Há milhões de anos, a área do
atual deserto do Saara, por exemplo, era ocupada por uma grande floresta e os
terrenos que hoje abrigam a floresta amazônica pertenciam ao fundo do mar. As
rupturas na crosta terrestre e a deriva dos continentes mudam a posição destes
ao longo de milênios. Em consequência, seus climas passam por grandes
transformações. As quatro glaciações já registradas – quando as calotas polares
avançam sobre as regiões temperadas – fazem a temperatura média do planeta cair
vários graus. Essas mudanças, no entanto, são provocadas por fenômenos
geológicos e climáticos e podem ser medidas em milhões e até centenas de
milhões de anos. Com o surgimento do homem na face da Terra, o ritmo de
mudanças acelera-se.
AGENTES DO DESEQUILÍBRIO
A escalada do progresso técnico
humano pode ser medida pelo seu poder de controlar e transformar a natureza.
Quanto mais rápido o desenvolvimento tecnológico, maior o ritmo de alterações
provocadas no meio ambiente. Cada nova fonte de energia dominada pelo homem
produz determinado tipo de desequilíbrio ecológico e de poluição. A invenção da
máquina a vapor, por exemplo, aumenta a procura pelo carvão e acelera o ritmo
de desmatamento. A destilação do petróleo multiplica a emissão de gás carbônico
e outros gases na atmosfera. Com a petroquímica, surgem novas matérias-primas e
substâncias não biodegradáveis, como alguns plásticos.
Crescimento populacional – O aumento da população mundial
ao longo da história exige áreas cada vez maiores para a produção de alimentos
e técnicas de cultivo que aumentem a produtividade da terra. Florestas cedem
lugar a lavouras e criações, espécies animais e vegetais são domesticadas,
muitas extintas e outras, ao perderem seus predadores naturais, multiplicam-se
aceleradamente. Produtos químicos não biodegradáveis, usados para aumentar a
produtividade e evitar predadores nas lavouras, matam microrganismos
decompositores, insetos e aves, reduzem a fertilidade da terra, poluem os rios
e águas subterrâneas e contaminam os alimentos. A urbanização multiplica esses
fatores de desequilíbrio. A grande cidade usa os recursos naturais em escala
concentrada, quebra as cadeias naturais de reprodução desses recursos e reduz a
capacidade da natureza de construir novas situações de equilíbrio.
Economia do desperdício – O estilo de desenvolvimento
econômico atual estimula o desperdício. Automóveis, eletrodomésticos, roupas e
demais utilidades são planejados para durar pouco. O apelo ao consumo
multiplica a extração de recursos naturais: embalagens sofisticadas e produtos
descartáveis não recicláveis nem biodegradáveis aumentam a quantidade de lixo
no meio ambiente. A diferença de riqueza entre as nações contribui para o
desequilíbrio ambiental. Nos países pobres, o ritmo de crescimento demográfico
e de urbanização não é acompanhado pela expansão da infraestrutura, principalmente
da rede de saneamento básico. Uma boa parcela dos dejetos humanos e do lixo
urbano e industrial é lançada sem tratamento na atmosfera, nas águas ou no
solo. A necessidade de aumentar as exportações para sustentar o desenvolvimento
interno estimula tanto a extração dos recursos minerais como a expansão da
agricultura sobre novas áreas. Cresce o desmatamento e a superexploração da
terra.
Lixo – Acúmulo de detritos domésticos e
industriais não biodegradáveis na atmosfera, no solo, subsolo e nas águas
continentais e marítimas provoca danos ao meio ambiente e doenças nos seres
humanos. As substâncias não biodegradáveis estão presentes em plásticos,
produtos de limpeza, tintas e solventes, pesticidas e componentes de produtos
eletroeletrônicos. As fraldas descartáveis demoram mais de cinquenta anos para
se decompor, e os plásticos levam de quatro a cinco séculos. Ao longo do tempo,
os mares, oceanos e manguezais vêm servindo de depósito para esses resíduos.
Resíduos radiativos – Entre todas as formas de lixo, os
resíduos radiativos são os mais perigosos. Substâncias radiativas são usadas
como combustível em usinas atômicas de geração de energia elétrica, em motores
de submarinos nucleares e em equipamentos médico-hospitalares. Mesmo depois de
esgotarem sua capacidade como combustível, não podem ser destruídas e
permanecem em atividade durante milhares e até milhões de anos. Despejos no mar
e na atmosfera são proibidos desde 1983, mas até hoje não existem formas
absolutamente seguras de armazenar essas substâncias. As mais recomendadas são
tambores ou recipientes impermeáveis de concreto, à prova de radiação, que
devem ser enterrados em áreas geologicamente estáveis. Essas precauções, no
entanto, nem sempre são cumpridas e os vazamentos são frequentes. Em contato com
o meio ambiente, as substâncias radiativas interferem diretamente nos átomos e
moléculas que formam os tecidos vivos, provocam alterações genéticas e câncer.
Ameaça nuclear – Atualmente existem mais de
quatrocentas usinas nucleares em operação no mundo – a maioria no Reino Unido,
EUA, França e Leste europeu. Vazamentos ou explosões nos reatores por falhas em
seus sistemas de segurança provocam graves acidentes nucleares. O primeiro
deles, na usina russa de Tcheliabínski, em setembro de 1957, contamina cerca de
270 mil pessoas. O mais grave, em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, deixa mais de
trinta mortos, centenas de feridos e forma uma nuvem radiativa que se espalha
por toda a Europa. O número de pessoas contaminadas é incalculável. No Brasil,
um vazamento na Usina de Angra I, no Rio de Janeiro, contamina dois técnicos.
Mas o pior acidente com substâncias radiativas registrado no país ocorre em
Goiânia, em 1987: o Instituto Goiano de Radioterapia abandona uma cápsula com
isótopo de césio-137, usada em equipamento radiológico. Encontrada e aberta por
sucateiros, em pouco tempo provoca a morte de quatro pessoas e a contaminação
de duzentas. Submarinos nucleares afundados durante a 2a Guerra Mundial também
constituem grave ameaça. O mar Báltico é uma das regiões do planeta que mais
concentram esse tipo de sucata.
Ecologia no Brasil
Com dimensões continentais e 70%
da população concentrados em áreas urbanas, o Brasil é o país em
desenvolvimento que mais tem atraído a atenção internacional. A poluição e o
desmatamento ameaçam seus diversificados ecossistemas, inclusive o de maior
biodiversidade do planeta, o amazônico.
O agravamento dos problemas
ambientais no país está ligado à industrialização, iniciada na década de 50, ao
modelo agrícola monocultor e exportador instituído desde os anos 70, à
urbanização acelerada e à desigualdade socioeconômica. Nas grandes cidades,
dejetos humanos e resíduos industriais saturam a deficiente rede de saneamento
básico e envenenam águas e solos. Gases liberados por veículos e fábricas, além
das queimadas no interior, poluem a atmosfera.
Poluição do ar
As emissões de dióxido de enxofre,
monóxido de carbono, óxido e dióxido de nitrogênio e de material particulado,
como poeira, fumaça e fuligem, crescem em todas as aglomerações urbanas e
industriais do país. A situação é mais grave em grandes centros, como São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Dados da Cetesb (Companhia Estadual de
Tecnologia e Saneamento Básico), de 1991, mostram que as indústrias da Grande
São Paulo lançam por ano no ar cerca de 305 mil toneladas de material
particulado e 56 mil toneladas de dióxido de enxofre. Automóveis e veículos
pesados são responsáveis pela emissão de 2.065 toneladas anuais de monóxido de
carbono. No complexo industrial da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, a
concentração de partículas em suspensão atinge a média anual de 160 mcg/m³, o
dobro do considerado seguro. Na região metropolitana de Belo Horizonte, a
concentração média de partículas poluentes no ar também é alta: 94 mcg/m³, e os
níveis de dióxido de enxofre são maiores que os de São Paulo. A maior
responsável por esses índices é Contagem, cidade mineira que concentra as
indústrias metalúrgicas, têxteis e de transformação de minerais não metálicos.
Em 1986, o governo federal cria o
Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores, que obriga a
instalação de filtros catalisadores no escapamento dos automóveis e caminhões
novos. O programa entra em funcionamento em 1988 e deve estar concluído em
1997.
Águas contaminadas
Praticamente todas as grandes e
médias cidades brasileiras têm suas águas contaminadas por esgotos, lixo
urbano, metais pesados e outras substâncias tóxicas. Os deltas do Amazonas e do
Capibaribe, as baías de Todos os Santos, de Guanabara e de Paranaguá, os rios
da bacia Amazônica, os rios Paraíba do Sul, das Velhas, Tietê, Paranapanema, do
Peixe, Itajaí, Jacuí, Gravataí, Sinos e Guaíba são repositórios desses
resíduos. Na Amazônia, o maior dano é provocado pelo mercúrio, jogado nos rios
à média de 2,5 kg para cada grama de ouro extraído dos garimpos. Os rios
Tapajós, Xingu, Taquari, Miranda e Madeira são os mais afetados.
Em São Paulo, em alguns trechos do
rio Tietê dentro da capital existe apenas bactérias anaeróbicas. O excesso de
cargas orgânicas em suas águas consome todo o oxigênio, mata os peixes e
qualquer outra forma de vida aeróbica. O lixo e o desmatamento nas margens
provocam o assoreamento de seu leito. Em 1993, o governo do Estado inicia um
programa de despoluição e desassoreamento do rio: barcaças retiram areia e lixo
do seu leito. A areia e a terra são levadas a uma distância de 5 km e o lixo
para aterros sanitários.
Poluição do mar – Dejetos industriais e orgânicos
são jogados em vários pontos do litoral. Vazamentos de petróleo em poços das
plataformas submarinas e acidentes em terminais portuários e navios-tanque têm
provocado graves desastres ecológicos. O terminal de São Sebastião (SP)
registra 105 vazamentos em 1990 e 1991. O litoral do Pará e as praias da ilha
de Marajó estão contaminados por pentaclorofeno de sódio, substância tóxica
usada no tratamento de madeira. Os pólos petroquímicos e cloroquímicos
localizados em quase todos os estuários dos grandes rios lançam metais pesados
e resíduos de petróleo nos manguezais e na plataforma continental. A baía de
Todos os Santos, na Bahia, está contaminada por mercúrio. A baia de Guanabara,
no Rio de Janeiro, recebe diariamente cerca de 500 toneladas de esgotos
orgânicos, 50 toneladas de nitratos e metais pesados, além de 3 mil toneladas
de resíduos sólidos – areia, plásticos, latas e outras sucatas. Em maio de
1994, o governo do Estado do Rio de Janeiro consegue financiamento do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) de US$ 793 milhões para a despoluição
da baía de Guanabara.
Degradação da superfície
O principal fator de poluição do
solo, subsolo e águas doces é a utilização abusiva de pesticidas e
fertilizantes nas lavouras. A média anual brasileira é duas vezes superior à do
mundo inteiro. Ainda são usados no Brasil produtos organoclorados e
organofosforados, proibidos ou de uso restrito em mais de 50 países devido a
sua toxicidade e longa permanência no ambiente. As regiões mais atingidas por
esses agrotóxicos são a Centro-Oeste, a Sudeste e a Sul, responsáveis por quase
toda a produção agrícola para consumo interno e exportação. O agente laranja,
um desfolhante usado pelos americanos na Guerra do Vietnã para devastar a mata
tropical, já foi aplicado por empresas transnacionais na Amazônia, para
transformar a floresta em terrenos agropastoris. A cultura da soja, hoje
espalhada por quase todas as regiões do país, também faz uso acentuado desses
fosforados. A médio e longo prazo esses produtos destroem microrganismos,
fungos, insetos e contaminam animais maiores. Eles também tornam as pragas cada
vez mais resistentes, exigindo doses cada vez maiores de pesticidas. No homem,
causam lesões hepáticas e renais e problemas no sistema nervoso. Podem provocar
envelhecimento precoce em adultos e diminuição da capacidade intelectual em
crianças.
Queimadas – Desde o início da ocupação
portuguesa o fogo foi o principal instrumento para derrubar a vegetação
original e abrir áreas para lavoura, pecuária, mineração e expansão urbana. Ao
longo dos quase cinco séculos de história do país, desaparece quase toda a
cobertura original da mata Atlântica nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul. No
Centro-Oeste, de ocupação mais recente, o cerrado vem sendo queimado para abrir
espaço à soja e à pecuária. Nos anos 80, as queimadas na floresta Amazônica são
consideradas uma das piores catástrofes ecológicas do mundo.
Em algumas regiões, é a seca que
provoca os incêndios que devastam os ecossistemas: 80% do Parque Nacional das
Emas , na divisa de Goiás com Mato Grosso do Sul, são destruídos pelo fogo em
1988 e, em 1991, outro incêndio destrói 17 mil ha do parque.
Desertos – Desmatamento indiscriminado,
queimadas, mineração, uso excessivo dos defensivos agrícolas, poluição, manejo
inadequado do solo e seca trazem a desertificação de algumas áreas do país. A
região Nordeste é a mais atingida: 97% de sua cobertura vegetal nativa já não
existem. A área desertificada chega a 50 mil ha e afeta a vida de 400 mil
pessoas. A mineração e as salinas também afetam o sul do Pará e a região de
Mossoró (RN). No Rio Grande do Sul, a superexploração agrícola e a pecuária
extensiva fazem crescer o já chamado "deserto dos pampas": uma área
de 200 ha no município de Alegrete.
Radiatividade – A ausência de comunicação
imediata de problemas em usinas nucleares preocupa militantes ecológicos e
cientistas no mundo inteiro. Isso também acontece no Brasil. Em março de 1993,
o grupo Greenpeace denuncia: a paralisação da Usina Nuclear de Angra I, em Angra
dos Reis (RJ), provoca um aumento anormal de radiatividade no interior de seu
reator. Pressionada, a direção da usina confirma a informação, mas garante que
o problema não é preocupante. No caso de Angra, o incidente serviu de alerta
para o fato de ainda não se ter estabelecido um plano eficiente para a
população abandonar a cidade em caso de acidente grave.
Espécies ameaçadas
Brasil, Colômbia, México e
Indonésia são os países de maior diversidade biológica no mundo. A Amazônia, a
mata Atlântica e o Pantanal estão entre as maiores reservas biológicas do
planeta, a maioria delas ameaçadas pelo processo de degradação ambiental.
Espécies vegetais ameaçadas – A substituição dos ecossistemas
originais por pastagens, o extrativismo desordenado e a poluição têm reduzido e
até levado à extinção inúmeras espécies vegetais nativas. É o caso da araucária.
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