Tudo
se inicia pela curiosidade humana. Um homem, à seu tempo, não conseguia
responder a uma pergunta simples. Esta dúvida insistia em existir na cabeça de
Gregor Mendel (1822-1884),
apropriadamente considerado o pai desta ciência.
-
“Como filhos de pais iguais podem ser tão diferentes uns dos outros e também
diferentes dos próprios pais”?
Seus experimentos com Pisum sativum (ervilhas-de-cheiro) publicados em 1866, foram realizados no
espaço limitado de um jardim do mosteiro onde também fora requisitado como
professor substituto. As conclusões tiradas na sua interessante investigação
constituem o fundamento da genética atual.
Mendel cursou até o equivalente ao segundo grau quando passou por uma
indicação, de um dos seus professores, para entrar no Mosteiro de Altbrün,
localizado na Áustria. Esse mosteiro pertencia à ordem dos Agostinianos. Nesse
local, aos 25 anos de idade, Mendel foi ordenado monge. Naquela época era bastante comum nas
comunidades religiosas que, além das tarefas específicas, os religiosos se
dedicassem a algum trabalho criativo fosse ele cientifico ou artístico. Levando em consideração sua grande
experiência anterior no cultivo e na fecundação artificial de plantas, Mendel
passou a cultivar exemplares da espécie Pisum
sativum, a popular ervilha-de-cheiro. Esses experimentos que mais tarde
se tornariam famosos, foram realizados entre 1856 e 1864, período em que ele
atuou como professor substituto no curso ginasial.
Antes, estudou na Universidade de Viena, onde sua sólida formação científica
e matemática foram inquestionáveis. Foi essa formação que forneceu ao monge o
domínio técnico necessário ao trabalho experimental, além das bases matemáticas
para realizar cálculos de probabilidades.
Em seus experimentos, Mendel tinha por objetivo elucidar os padrões de
transmissão de características através das gerações. Para tanto, realizou
cruzamentos experimentais com ervilhas-de-cheiro, tomando o cuidado de selecionar
criteriosamente os espécimes com os quais iria trabalhar. A própria escolha da
ervilha-de-cheiro não foi acidental.
Além de ser facilmente cultivada, essa espécie possui um ciclo
reprodutivo bem curto e apresenta variedades com características simples,
visíveis e contrastantes. Existe também a facilidade da autofecundação, pois as
flores dessa leguminosa mantem-se fechadas, guardando em seu interior ambos os
aparelhos reprodutores. A presença do mecanismo da autofecundação irá garantir
há Mendel, a possibilidade de fazer surgir plantas que ele identificou como
“linhagens puras”, ou seja, indivíduos homozigóticos.
O fato, das flores serem fechadas, garantia a Mendel o controle
necessário ao processo de cruzamento, uma vez que não havia necessidade de um
fator abiótico (como o vento ou outro agente natural) ou até mesmo um organismo
transportar os grãos de pólen de uma flor para a outra.
Mendel
não foi o primeiro que realizou experimentos onde era possível a ocorrência da hibridização,
mas foi o primeiro ao considerar os resultados como características
individuais. Utilizando métodos científicos, confrontou os conceitos de
proporcionalidade com modelos matemáticos e criou hipóteses para explicar essas
diferenças.
A genética durante algum tempo ficou
restrita dentro dos “muros” do meio academicista. Pesquisas que envolviam
organismos, estruturas biológicas, manipulação de informação, era algo em que a
população de uma forma geral pouco entendia e perguntava a respeito. De
aproximadamente 50 anos para os dias de hoje, esta ciência ganhou status de
“ator principal”, sendo diretamente responsável por safras de grãos mais
volumosas (agricultura), produção de mais carne em vacas (pecuária), maior
quantidade de THC (melhoramento genético em plantas), diagnósticos precoces de
várias formas de câncer (diagnósticos genéticos), identificação de parentescos
e confirmação de restos mortais (identificação de paternidade e genética
forense) e uma série de outros processos desenvolvidos a partir da Biologia
Molecular e da Genética.
Os cromossomos (kroma: cor, soma: corpo)
são filamentos condensados da cromatina, presentes no suco nuclear das células,
que podem ser corados com a utilização de corante citológico (carmim acético,
orceína acética ou reativo de Schiff), constituído por DNA e algumas proteínas,
podendo ser observado à microscopia de luz no processo de divisão celular.
Nas células
interfásicas, não conseguimos observar, em microscopia de luz, os cromossomos
individualizados. Identifica-se apenas um grupo de cromossomos formando uma
massa chamada de cromatina. A cromatina é formada por
nucleoproteínas (RNA e DNA em maior parte), além das proteínas globulares,
fosfatídeos e constituintes minerais como o cálcio e o magnésio.
Esta estrutura pode se apresentar de duas formas: eucromatina
ou heterocromatina. A heterocromatina (hetero:
diferente) é a parte mais espiralizada e com maior índice de coloração pelos
corantes alcalinos em núcleos interfásicos, porém está relacionada com uma menor
atividade biológica, visto que para se tornarem mais
visíveis, a heterocromatina precisa estar espiralada tornando seu “acesso”
praticamente impossível, logo diminuindo sua “leitura” para composição de proteínas.
Já a eucromatina (eu: verdadeiro), é menos visível justamente pelo fato de estar
menos condensada, ainda não iniciou o processo de espiralização, logo sua
estrutura ainda está “acessível” para a “leitura” do código e com isso a
síntese de proteínas.
Outra informação bastante relevante é
quanto ao papel do nucléolo nesta estrutura. Aprendemos que quando ocorre o
processo de divisão celular (quer seja mitose quer seja meiose), o nucléolo
desaparece na fase de prófase dessas divisões. Isso ocorre pelo fato que
durante a divisão celular a cromatina começa a espiralar, tornando seu conteúdo
inacessível para a mais simples produção de uma nova fita de DNA que possa
servir de molde para o processo de síntese proteica. Como a síntese de
proteínas continua sendo executada, o nucléolo começa a se desfazer, visto ser
constituído de RNA, para que a síntese continue. Esse é o mecanismo que faz com
que, aparentemente, ele desapareça no início de toda divisão celular. No final
da divisão celular (telófase), como a cromatina está se desespiralizando, a
informação genética pode ser acessada além das zonas satélites de alguns
cromossomos (Região Organizadora do Nucléolo = RON); com isso fazendo com que o
nucléolo possa se tornar visível de novo.
Ao longo dos anos algumas
hipóteses puderam ser levantadas:
1.
Pré-formação
ou progênese: no interior dos gametas já existiam minúsculas criaturas que
iriam formar um novo ser. Denominamos de homúnculo,
Séc. XVIII. Divisão entre espermistas e ovistas. Outros diziam que existiam
outros homúnculos menores dentro do homúnculo, o que caracterizaria a
perpetuação da espécie.
2.
Gêmulas
ou pangenes: Charles Darwin, produção de diminutas partes do corpo por meio dos
órgãos que seriam levados pela corrente sangüínea até os órgãos sexuais, onde se
reuniriam para a formação dos gametas.
3.
Herança
através do sangue: proposta no final do século passado, sugeria que as
informações hereditárias eram passadas ao descendentes, pelos ancestrais, pelo
sangue em que cada indivíduo teria a metade do sangue do pai e a outra metade
da mãe, consequentemente ¼ do sangue dos
avós e assim por diante.
4.
Epigênese:
os gametas traziam as informações para a produção de um novo ser, ao contrário
dos demais que pregavam a existência do indivíduo pré-formado. Apesar de ter
sido utilizada como base para a teoria Mendeliana, von Baer não soube explicar
o que seriam estas potencialidades.
Termos
adotados na Genética:
Autossômico
dominante - Um gene,
num dos cromossomos não sexuais, cujas características se manifestam, mesmo que
apenas uma cópia esteja presente. A chance de passar o gene, para os
filhos é de 50% em cada gravidez.
Alelos -
modalidades
alternativas de genes que ocorrem no mesmo locus
em cromossomas homólogos.
Autossômico recessivo - Genes que, como
no caso da doença de Gaucher, precisam de duas cópias (no cromossomo paterno e materno) para
manifestarem determinada característica.
Congênita - Qualquer alteração no feto ocorrida durante a gravidez e
presente ao nascimento. O trago congênito, defeituoso ou não, físico ou bioquímico, pode
ser resultante de uma mutação genética ou fator não genético. (Diferente de hereditário - veja
abaixo.)
Cromossomos - Material hereditário, composto de DNA e proteínas, cuja
principal função é conservar, transmitir e expressar a informação genética. São eles
que definem, por exemplo, a cor dos olhos e a ocorrência de algumas doenças.
Na espécie humana, 46 cromossomos (22 pares e os cromossomos sexuais X e Y)
estão presentes em todos os cem trilhões de células do organismo, à
exceção das células sexuais (que só têm a metade) e das hemácias (que não tem nenhum).
Expressão gênica — Ocorre quando a característica
codificada por um gene se manifesta efetivamente. Exemplo: quando o
pâncreas fabrica insulina, significa que o gene, da insulina se expressa
naquele órgão (embora o mesmo
gene esteja presente em todas as demais células do corpo, não se expressa
nelas).
Fenótipo
- características
observáveis de um organismo. Resulta da interação do genótipo com o ambiente.
Gene - Unidade básica do DNA, que ocupa um
lugar específico no cromossomo e determina cada uma das características do indivíduo, sendo transmitida de geração em geração.
Os genes acontecem aos pares, um gene, (alelo) vindo da mãe e outro do
pai. O ser humano tem cerca de 30 mil genes e metade deles já foram isolados
pelos cientistas. Sabe-se que mais de mil genes, quando alterados, estão
associados a doenças.
Gene dominante - é um gene que no estado heterozigótico se expressa com
predominância sobre a expressão do
gene recessivo. Um indivíduo heterozigoto carrega consigo dois alelos
diferentes do mesmo gene. Mendel já afirmara
que o gene dominante não se mistura com o recessivo, ambos ocorrendo puros na separação.
Gene recessivo – é um gene cuja característica não
aparece expressa, no estado heterozigótico. Um gene recessivo só produz a sua
característica quando o seu alelo está presente nos dois pares de cromossomos
homólogos (arranjo homozigoto), e só se manifesta na ausência de seu gene
contrário “dominante”.
Genética - Ciência que trata da reprodução, herança, variação e do
conjunto de fenômenos e problemas relativos
à descendência.
Genótipo - Constituição genética de um organismo, diferente de sua
aparência física (fenótipo). Conjunto de genes existentes em cada um dos núcleos das células dos
indivíduos pertencentes a uma determinada espécie, responsável pelas disposições
hereditárias desse indivíduo em particular.
Hereditário - Algo que se transmite por herança de pais a filhos. No
feto, alteração hereditária refere-se àquela que vem herdada nos gametas (óvulo ou
espermatozoide), antes da fecundação. Difere, portanto, de alteração congênita, que se refere a uma
ocorrência durante a gravidez.
Heterozigoto
- é alguém que tem
diferentes alelos em um locus. Por
exemplo, usando um exemplo de uma célula doente, um indivíduo heterozigoto
parece ter um genótipo de Aa.
Híbrido - indivíduo resultante do cruzamento de dois organismos
geneticamente diferentes, mas pertencentes ao mesmo gênero. Os híbridos são, em gerais, estéreis.
Homozigoto
- tem alelos
idênticos em um locus. O genótipo
para um indivíduo homozigoto pode ser AA ou SS ou mesmo aa ou ss.
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