POLIALELIA
O
surgimento de outros alelos ocorre por mutação de um gene componente do par. As
mutações são pequenas alterações na estrutura do DNA (na grande maioria das
vezes), que originam uma variante recessiva em relação ao gene. Podemos ter
como exemplo a coloração das sementes provindas da ervilha-de-cheiro (Pisum sativum). O alelo recessivo v, identificado como responsável pela
cor verde, é resultado de uma mutação sofrida pelo gene que determina a cor
amarela da semente da mesma planta.
O
mesmo mecanismo pode resultar no surgimento de mais variantes, produzindo três
ou mais alelos diferentes. Nesse caso, falamos em alelos múltiplos ou polialelia.
Um exemplo comum é a herança que envolve a pelagem dos coelhos, apresentando
quatro variáveis: Selvagem ou agouti, chinchila, himalaia e albino. Nos coelhos
que apresentam o padrão selvagem os pelos apresentam três tipos de coloração:
na região situada junto a pele, a coloração é cinza; na faixa intermediária, é
amarela e na extremidade superior é preta.
Na
variedade chinchila, os pelos não tem pigmento amarelo, conferindo um aspecto
cinza-prateado, resultado da mesclagem entre os pelos cinzas e pretos. Os
animais identificados como himalaia apresentam a pelagem toda branca com
exceção das extremidades da orelhas, patas e focinhos que são pretos. Já os
animais chamados de albinos apresentam a pelagem toda branca.
Cada
uma dessas variedades é determinada por um alelo diferente. O gene C,
responsável pela pelagem do selvagem é dominante sobre os outros alelos. O
alelo cch determina a variedade chinchila que é dominante sobre as
himalaia e albina; por sua vez, o alelo ch identificado como branco
com extremidades pretas é dominante apenas para a variedade albina (ca).
Há portanto uma relação decrescente de dominância:
|
Como consequência dessa relação, os
quatro tipos de fenótipos mencionados podem resultar dos seguintes genótipos:
Fenótipo
|
Genótipo
|
Selvagem ou Agouti
|
CC, Ccch, Cch e Cca
|
Chinchila
|
cchcch, cchch e cchca
|
Himalaia
|
chch e chca
|
Albino
|
caca
|
GRUPO SANGUÍNEO
ABO (zero)
Durante
muito tempo existiram preocupações a cerca do sucesso da transfusão sanguínea
em algumas pessoas. No início do século XX, K. Landesteiner observou que quando
o sangue de algumas pessoas era misturado com o de outras, ocorria uma reação
de aglutinação, denominada de hemaglutinação. Com essa identificação,
pode-se formular a hipótese de que deveriam existir vários tipos de antígenos,
sendo uns compatíveis com outros e outros não apresentavam essa compatibilidade.
Mais
a frente pode-se comprovar esta hipótese de Landesteiner; com descoberta de
dois tipos de antígenos e dois tipos de anticorpos. Posteriormente, testes na
população humana permitiu identifica-los nos diferentes grupos sanguíneos
abaixo apresentados:
Grupo
Sanguíneo
|
Antígeno A
|
Antígeno B
|
Anticorpo A
|
Anticorpo B
|
A
|
P
|
-
|
-
|
P
|
B
|
-
|
P
|
P
|
-
|
AB
|
P
|
P
|
-
|
-
|
O
|
-
|
-
|
P
|
P
|
P = presente, - = ausente
Esta classificação é baseada na presença de ou não de determinadas
substâncias produzidas na superfície dos eritrócitos (hemácias). Essas
substâncias são polissacarídeos unidos a proteínas, que se comportam como
antígenos (ou aglutinogênios) quando introduzidos no corpo de um indivíduo que
não as possui. Dessa maneira induzem à constituição de anticorpos.
Os
antígenos são transportados na membrana plasmática dos eritrócitos enquanto os
anticorpos existem no soro ou plasma sanguíneo.
Informação médica – transfusões
Numa
transfusão devemos considerar alguns aspectos, tais como: a diluição do soro
recebido e a circulação ativa de quem vai ser transfundido. Visto que nas transfusões
devemos nos preocupar com a presença de anticorpos no receptor, pois estes mesmos anticorpos podem provocar
hemaglutinação o que acarretaria a formação de “trombos”. Podemos atenuar esse
efeito em razão da diluição e da circulação ativa do sangue do receptor.
A
tabela abaixo identifica as transfusões de sangue possíveis, além da doação
dentro do mesmo grupo:
Doador
|
Receptor
A
|
Receptor
B
|
Receptor
AB
|
Receptor
O
|
A
|
Sim
|
Não
|
Sim
|
Não
|
B
|
Não
|
Sim
|
Sim
|
Não
|
AB
|
Não
|
Não
|
Sim
|
Não
|
O
|
Sim
|
Sim
|
Sim
|
Sim
|
Podemos
inferir que o grupo sanguíneo O (zero), por doar sangue para os demais grupos
sem reação de incompatibilidade, é denominado doador universal e o AB, visto
receber sangue dos demais grupos, é denominado receptor universal. Porém, as
transfusões com o sangue do tipo zero, não podem ultrapassar os 500 ml visto
conterem todas as aglutininas, o que poderia provocar uma hemaglutinação no
sangue do receptor.
Informação genética
Informação genética
A
tipagem do grupo sanguíneo ABO (zero) pode ser explicada por intermédio de um grupo
de três alelos aonde o alelo IA indica a presença do antígeno A e a
aglutinina anti-B, o alelo IB é responsável pela presença do
antígeno B e a aglutinina anti-A e o alelo i (recessivo) indica a ausência dos
dois antígenos, porém mantém presentes os dos dois tipos de aglutininas. Desta
forma, podemos representar como a tabela abaixo, onde apresentamos tanto
fenótipo quanto os genótipos.
Grupo
Sanguíneo
|
Genótipo
|
A
|
IAIA, IAi
|
B
|
IBIB, IBi
|
AB
|
IAIB
|
O
|
ii
|
A
presença destes três alelos identifica a herança como poligênica, ou polialelia.
Entre estes alelos há relação de dominância incompleta entre os tipos A e B
(codominância entre IA e IB) e uma relação de dominância
completa entre os tipos A e B com relação ao tipo O (IA e i e entre
IB e i).
FATOR Rh
Uma nova
forma de identificação sanguínea, o fator Rh, foi verificado em 1940 por
Landesteiner e A.S. Wiener através de experimentos realizados com coelhos e
macacos. Nesses experimentos a injeção de sangue de símios do gênero Rhesus (depois identificado corretamente
como pertencente à espécie Macaca mulata)
em cobaias, onde se obteve como resposta a formação de anticorpos capazes de
aglutinar as hemácias provenientes do macaco.
Uma vez promovida
à extração dos anticorpos nas cobaias, eles foram testados na população humana.
Com relação aos testes, pode-se verificar que parte da população humana testada
apresentava reação de hemaglutinação enquanto que outra se mostrava não sensível.
Os indivíduos que apresentavam a reação de hemaglutinação com os anticorpos
foram denominados como pertencentes ao grupo Rh+, os demais, que não
apresentavam hemaglutinação, pertenciam ao grupo Rh-.
Com a
identificação deste novo antígeno, presente na membrana plasmática dos
eritrócitos, pode-se comprovar que a herança genética do fator Rh é classificada
como monogênica, sendo a existência do antígeno Rh condicionada a um alelo
dominante (R) e sua ausência pelo alelo recessivo (r). O anti-Rh não ocorre
naturalmente na população humana.
Grupo
|
Genótipo
|
Antígeno Rh
|
Anti-Rh
|
RH+
|
RR ou Rr
|
Presente
|
Ausente
|
RH-
|
rr
|
Ausente
|
Ausente (*)
|
(*) Presente após sensibilização em uma transfusão
em que o sangue transfundido é RH+.
Transfusões
Transfusões
O
anticorpo anti-Rh não é comumente presente no sangue humano, mas pode ser
induzido pela presença do antígeno Rh (Rh positivo). Os mecanismos de
transfusão podem ser os seguintes:
·
Rh negativo pode doar tanto para indivíduos iguais a
ele ou de fator diferente do seu (Rh positivo)
·
Rh positivo pode doar para indivíduos com o mesmo
fenótipo que o dele. Numa circunstância necessária, pode ser doado também para
Rh negativos desde que estes indivíduos não tenham sido transfundidos antes por
Rh positivo, logo não apresentam o anti-Rh.
·
A transfusão de sangue do doador Rh positivo para um
receptor Rh negativo, não terá problemas na primeira vez, visto que após a primeira
doação o receptor terá apenas anticorpos, uma vez que os eritrócitos serão
substituídos.
Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN) – Eritroblastose Fetal
Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN) – Eritroblastose Fetal
Mulheres
com fator Rh negativo (rr) ao se casarem com homens Rh positivos (RR ou Rr)
podem gerar crianças com o mesmo fator Rh do pai. Como existe a possibilidade do sangue materno,
durante a gestação, entrar em contato com o sangue do feto, por um defeito na
placenta ou por processos hemorrágicos durante a gestação e no momento do parto,
há possibilidades de se formar, no organismo materno, o anti-Rh.
As
crianças que surjam depois de partos onde o primeiro filho foi Rh positivo,
oriundos de uma mãe com Rh negativo, desde que essas crianças também apresentem
o fator Rh positivo, podem nascer com sérias complicações. Os anticorpos que
foram produzidos na gestação inicial podem atravessar a placenta e atingir o
sangue fetal, provocando a destruição dos eritrócitos constituídos pela medula
óssea.
Problemas mais comuns em crianças portadoras de Eritroblastose Fetal
Problemas mais comuns em crianças portadoras de Eritroblastose Fetal
· Morte
intrauterina;
· Morte logo
após parto;
· Anemia
grave;
· Surdez e/ou deficiência
mental;
· Icterícia
(coloração amarela anormal devido ao derrame da bílis no corpo e no sangue,
devido à presença de bilirrubinas);
· Insuficiência
hepática.
Controle e amenização de risco da DHRN
Controle e amenização de risco da DHRN
Existem
algumas alternativas para amenizar os problemas decorrentes do risco da
eritroblastose fetal. Podemos listar abaixo as mais comuns:
· O profissional
médico pode identificar a severidade da situação antes mesmo do nascimento da
criança. Testes com amostras do líquido amniótico podem indicar se o feto
apresenta algum grau de comprometimento. Caso o perigo seja iminente é recomendada
cirurgia cesariana, ou uma transfusão de sangue logo após o parto. No último
caso, a criança deve receber sangue Rh negativo, que seria substituído pelo Rh
positivo original, logo a seguir.
· Fazer uso de
anticorpos incompletos. Este tipo de anticorpo não permite a aglutinação dos eritrócitos
do sangue Rh positivo. Em vez disto, os anticorpos são anexados aos antígenos
receptores, presentes na superfície da membrana plasmática, e os revestem.
Estes anticorpos incompletos podem ser injetados numa mãe Rh negativa
imediatamente ao parto. Conhecidos pelo nome comercial de soro Anti Rhogam.
Após a aplicação do soro, em alguns poucos meses serão destruídos e não representam
qualquer perigo para a mãe ou para as suas gerações posteriores.
· A chance
será muito menor se o homem apresentar genótipo heterozigoto. No Brasil uma
mulher Rh negativa tem o risco de desenvolver a síndrome muito acentuadamente
visto que a frequência de indivíduos com o fator Rh positivo ser maior que 85%.
· Também
devemos considerar o efeito protetor do sistema ABO (zero). A mãe Rh negativa
sendo do grupo O, ao ter um filho com o fator Rh positivo pertencente ao grupo
A ou B ou AB, está não será induzida a produzir anticorpos anti-Rh, visto que sua
aglutinina anti-A ou a aglutinina anti-B irá destruir todos os eritrócitos do doador
(feto) antes da indução.
|
GRUPO SANGUÍNEO MN
Em
1927, Landsteiner e Levine injetaram sangue humano em coelhos. Depois de algum
tempo, os coelhos haviam produzido anticorpos contra os aglutinogênios
diferentes do sistema ABO (zero).
Sabemos
que em condições normais, um organismo só produz anticorpos contra substâncias
estranhas à ele, logo que tiveram contato com o sistema biológico. Portanto, a
produção dos anticorpos pelo organismo do coelho em resposta à inoculação do
sangue humano indica que este mesmo sangue continha elementos que ele (sangue
do coelho) desconhecia. Estas substâncias estão presentes na superfície da
membrana plasmática dos eritrócitos e são identificadas como antígenos M
e N.
Os
genes responsáveis pela produção dos antígenos M e N são identificados como LM
e LN, respectivamente. A inicial “L” foi criada em homenagem ao seu
classificador Landsteiner. Quando estão associados, estes genes se manifestam
como o aglutinogênio A e B do sistema ABO, são codominantes, não exercendo
influência dominância entre eles. Como no sistema ABO, os aglutinogênios M e N,
quando presentes conjuntamente, o indivíduo apresenta um fenótipo MN.
Logo,
para que um indivíduo apresente o fenótipo M ou o fenótipo N, eles precisam
estar em homozigose.
Devemos
lembrar que, apesar de ser muito confundido, este não se trata de um caso de
polialelia por que os genes em questão apresentam uma herança totalmente
independente do sistema ABO, uma vez que estes genes (LM e LN)
se situam em cromossomos diferentes.
O
motivo da pequena importância dos antígenos M e N num processo de transfusão sanguínea
seriam exatamente pelo fato destes antígenos serem fracos e inábeis na
capacidade de induzir a formação de uma resposta pelo organismo, ou seja, a
síntese de anticorpos. Os anticorpos utilizados nos testes são obtidos em
cobaias.
Genótipos
|
Antígeno M
|
Antígeno N
|
Fenótipo
|
LM LM
|
Presente
|
Ausente
|
M
|
LM LN
|
Presente
|
Presente
|
MN
|
LN LN
|
Ausente
|
Ausente
|
N
|
Fazendo parte dos elementos figurados do sangue, existem
células especializadas na defesa do organismo contra diversas formas de
invasores. As diferentes formas pelas quais um organismo se protege contra
agentes estranhos recebe o nome de resposta
imune. Podemos caracterizá-las em duas formas básicas de reação: resposta
humoral e resposta celular.
A
resposta humoral consiste na produção de moléculas protéicas denominadas de anticorpos, também conhecidas como imunoglobulinas, são sintetizadas pelos
linfócitos B e atuam na resposta imune, promovendo uma ligação ao antígeno que
desencadeou o processo de sua composição. Essa ligação é chamada de
antígeno-anticorpo e, por ser um mecanismo específico, requer afinidade química
entre as moléculas. Graças ao mecanismo antígeno-anticorpo, a ação das células
que promovem a fagocitose dá-se de maneira mais eficiente.
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