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segunda-feira, 30 de abril de 2012

TOXICOLOGIA - UM CONJUNTO DE MITOS E VERDADES


TOXICOLOGIA

PROF. ANDRÉ FONSECA


Para Lauwerys, toxicologia é a ciência que se ocupa dos agentes tóxicos, enquanto para Loemis é o estudo das ações e efeitos nocivos de substâncias químicas sobre os sistemas biológicos, da probabilidade de suas ocorrências e dos limites máximos aceitáveis para a exposição dos sistemas biológicos às substâncias químicas.
É toda substância exógena, de estrutura química definida, que quando entra em contato com o organismo pode produzir uma ação negativa ou deletéria, originando um desequilíbrio orgânico.
O agente tóxico pode ser classificado de diversas maneiras.

1.     Quanto à origem
Pode ser classificada em animal, vegetal e mineral.

2.  Quanto ao órgão ou sistema em que promove a ação tóxica
Pode ser neurotóxico, nefrotóxico, cardiotóxico, hepatotóxico ou hepatopático.

3.     Quanto ao tipo de efeito
Pode ser carcinogênico, mutagênico e teratogênico.

Cada cultura apresenta um grupo de substâncias que alteram a fisiologia natural do sistema biológico que são claramente permissivas para a sociedade. Neste grupo estão inseridas a cafeína, a nicotina e o álcool.

Drogas permissíveis

Nossa atitude com relação a essas drogas é de uma permissividade quase completa. A cafeína é acessível às crianças sob a forma de bebidas que contém cola (Cola sp. Planta cujas folhas são utilizadas como flavorizante em bebidas como a Coca-cola®, a Pepsi-cola®, e muitas outras, sendo por isso dado o sufixo cola ao nome dessas bebidas) e, aos adultos sob a mesma forma e, também nos muito difundidos café e chá Como a cafeína é um estimulante moderado, sua ação o é provavelmente perceptível durante o dia de trabalho; a cafeína não é considerada uma droga da maneira como, em geral, definimos este termo.
A nicotina é acessível em várias formas diferentes de tabaco, para o mencionarmos as formas de administração intranasal e bucal recentemente retomadas.  Enquanto  que  um  campanha intensa  está  sendo  custeada  n momento  para  desencorajar  o  uso  de  cigarros,  campanha  esta  que obteve pouco sucesso até o presente momento, a objeção feita o se refere ao efeito da droga, mas à inalação de substâncias nocivas que acompanham a combustão do cigarro. Embora doses grandes, (de 60 mg)  de  nicotina,  administrada  agudamente,  pudessem  matar  um  homem,  as  doses constantes, utilizadas por fumantes, e a tolerância desenvolvida, permitem que quantidades iguais ou maiores  sejam  utilizadas  todos  os  dias  com  poucos  efeitos  fisiológicos.  Enquanto  que  o  hábito  de fumar  é  associado  com  um  número  cada  vez  maior  de  mortes  causadas  por  doenças  na  artéria coronária, é questionável se os efeitos farmacológicos da nicotina dos cigarros contribuem de maneira direta para esse efeito nocivo. Portanto, esta droga também é considerada como inócua, da maneira como é, via de regra, usada.
A mais perigosa das drogas nacionais é, sem dúvida, o  álcool etílico, o qual está disponível em  uma  grande  variedade  de  bebidas.  Esta  droga  induz  o  vício  em  todos os sentidos desta palavra. Aparentemente, a nossa sociedade valoriza os aspectos benéficos do uso de bebidas alcoólicas, mais do  que  teme  as  conseqüências  maléficas,  pois  elas  o  de  fácil  acesso  a  todos  os  adultos,  em quantidades ilimitadas.
O álcoo é primariamente u depresso d sistem nervos centra (SNC) Produz desinibição suficiente para propiciar uma desenvoltura social desejada, embora esta seja atingida com prejuízo de certas funções. Poder-se-ia dizer muito a favor e contra o uso de bebidas alcoólicas, mas a verdade é que s aceitamos o seu uso e os seus presumíveis benefícios, assim como os perigos do abuso. Nunca se fez uma campanha séria e objetiva contra o uso de bebidas alcoólicas igual a que o Ministério da Saúde patrocina contra o cigarro, por quê?

Drogas prescritivas

Dentro desta categoria seriam classificadas aquelas drogas cujo uso terapêutico advém de seus efeitos principais. Como tais, elas o obtidas com facilidade quando procuradas nos estabelecimentos farmacêuticos,  pois  geralmente  o  de  venda  livre,  ou  quando  prescritas  pelos  médicos.  As  drogas deste  tipo  constituem  algumas  das  mais  amplamente  vendidas  no  comércio  farmacêutico  ou  mais prescritas e consumidas no Brasil e toda a parte do mundo.
Os  analgésicos  opiáceos  estão  entre  as  drogas  mais  valiosas  para  a  prática  clínica;  nenhum médico imaginaria exercer sua função sem elas. Embora uma grande variedade de derivados naturais tenha sido extraída do ópio puro, e muitos análogos sintéticos tenham sido produzidos em laboratório, ainda  assim  os  médicos  encontram  na  prescrição de opiáceos a arma-secreta de seu arsenal terapêutico.
Os barbitúricos m sido usados por mais de 75 anos, sendo que seu consumo anual no Brasil é medido  em  toneladas.  Essas  drogas  o  consideradas  úteis  na  prática  clínica,  e  provocam  efeitos sedativos,  hipnóticos,  relaxantes  musculares,  anticonvulsivantes,  pré-anestésicos  e  anestésicos  em formas diferentes e doses variáveis. Ainda hoje o diazepam ainda é a droga ansiolítica mais prescrita, apesar de todos os novos ansiolíticos o benzodiazepínicos mais específicos que estão surgindo no mercado.
As anfetaminas têm sido usadas como estimulantes por mais de 40 anos, e como moderadores de apetite  por  quase  o  mesmo  tempo.  Essas  drogas  o  estimulantes  potentes,  comparada  com  a cafeína,  e  produzem  fortes  efeitos  simpatomiméticos.  Na  prática  clínica  atual,  elas  têm  sido  usadas com maio freqüênci com moderadore d apetite Vário análogo d anfetamin foram produzidos para esse fim: fenmtrazina, dietilpropiona, mazidol, anfepramona, e outras.

Drogas controladas

Este grupo de drogas inclui aquelas que foram colocadas sob controle especial, devido a uma grande freqüência de usos ilícitos ou ilegais. No momento, a situação vem se alterando com rapidez, devido  a  recentes  leis  que  aumentaram  essa  lista  de  drogas  controladas,  em  especial,  a portarias 27/86 e 28/86, esta última se dividindo em 28A, que trata de fármacos entorpecentes como a morfina, petidina, anfepramona, mazidol, etc. e  28B, que trata de medicamentos psicoativos mais potentes que os da portaria 27/86 e menos ativos que os da 28A/86, que regulamentam a produção, prescrição, comercialização e dispensação de drogas psicoativas e que aumenta todo ano com o lançamento de novas drogas no mercado.

HEROÍNA E OUTROS OPIÁCEOS
Embora  a  heroína  seja  a  mais  conhecida  de  todos  os  opiáceos  que  induze vícios, outras drogas  que possuem  muitas  de  suas  propriedades  farmacológicas  também  podem  estar  sujeitas  ao abuso Centena d milhare d dose d morfina   administrada diariament co fins terapêuticos,  com  poucos  problemas  de  abuso.  Drogas  sintéticas  semelhantes  aos  opiáceos  são representadas de maneira fundamental pela Petidina (também chamada de Meperidina), Pentazocina, Metadona e propoxifeno.
A maioria dos opiáceos sintéticos foi introduzida como narcóticos menos propensos a causar vício.  No  caso  da  petidina  esta  idéia  foi  rapidamente  abandonada,  embora  o  seu  uso  tenha  sido bastante restringido àqueles com acesso fácil à droga, tais como médicos, enfermeiros e outras pessoas ligadas à saúde. A pentazocina representa o resultado básico de uma longa pesquisa de drogas com ações mistas agonista -  antagonista, que apresenta um menor potencial de abuso. Até certo ponto esta expectativa foi confirmada; grandes doses da droga tendem a produzir reações desagradáveis do tipo alucinógenas; os poucos casos de dependência da pentazocina m sido moderados. A metadona é um narcótico potente, bastante útil como substituto da morfina quando os pacientes o intolerantes a esta última  droga.  Ela  é  altamente  viciante.  O  propoxifeno  é  muito  semelhante,  em  termos  químicos,  à metadona. A despeito de um merecido uso clínico generalizado, casos de abuso o bastante raros  e são, indubitavelmente, causados pela sua extrema falta de potência.
O uso difundido do ópio no tratamento de ferimentos durante a guerra civil norte- americana (a guerra de sesseção) levou à primeira de muita epidemias de seu uso. Foi estimado que 4% dos norte- americanos  usou  ópio  durante  o  período  pós-guerra  civil.  No  período  imediatamente  anterior  à primeira  guerra  mundial,  a  estimativa  tinha  diiminuído em 1 usuário para cada grupo de 400 pessoas adultas  (0,0025%).

EFEITOS
  • Assim  como  a  maioria  das  drogas,  a duração da ação depende até certo ponto da dose, sendo que as doses populares duram de 3 a 5 horas. Assim, o viciado nunca está muito distante dos sintomas da síndrome de abstinência.
  • Elevação do limiar da dor, o que dá ao toxicômano a “coragem necessária para enfrentar tudo o que for preciso para dar seus “vôos.
  • Alterações psíquicas, fazendo desaparecer o medo, ansiedade e apreensão.
  • De acordo com a dose, pode produzir desde sono, até insônia pronunciada.
  • A principal conseqüência, ou melhor, dizendo, o principal e mais acentuado efeito é a  miose que, quando do uso da heroína, a pupila fica do tamanho da cabeça de um alfinete. Além da miose, se pode observar também ligeira hipotensão ocular.
  • O problema da heroína o está no aumento ou diminuição da libido, mas sim na despersonalização  o  pronunciada.


ÁLCOOL ETÍLICO

O Etanol  ou álcool (álcool de cereais) é conhecido em quase todas as mundo, desde a pré-história. É formado naturalmente através da fermentação do levedo do amido ou do açúcar de frutas, cereais,  batatas  ou  cana-de-açúcar  e,  em  muitos  países,  a  lei  permite  o  uso  somente  de  álcool  de origem  natural  quando  destinado  a  consumo  humano.  O etanol para uso industrial é produzido principalmente por síntese orgânica a partir do etileno.
Embora o conhaque e o uísque fossem antigamente considerados “estimulantes, o álcool é, na verdade, um hipnótico e uma droga anestésica.  É pouquíssimo usado em farmacoterapia, exceto como solvente para algumas drogas administradas na forma líquida, na produção dos florais de Bach, nos quais também se usa o conhaque e em homeopatia, onde o veículo mais utilizado para fazer as dinamizações é o álcool etílico.
A absorção é limitada e pode aumenta devido à irritação da mucosa produzida pelo álcool e pelo esvaziamento gástrico, ou seja: de  estômago vazio, a absorção é maior. A absorção também depende da natureza do alimento ingerido junto com o álcool, e ainda, da velocidade com que a pessoa ingere a bebida. Inicia-se 4 a 5 minutos após a ingestão, sendo absorvido nas seguintes proporções: aproximadamente 20% pelo estômago e os 80% restantes pelo intestino.

EFEITOS
  • O álcool inibe a gliconeogênese e produz uma hipoglicemia acentuada e por isso o alcoólatra acorda com tremor que vai de moderado a acentuado.
  • Em pequenas doses, o álcool deprime o sistema reticular, desequilibrando o comportamento. Em altas doses provoca uma depressão acentuada, diminui a regulação térmica, produz vasodilatação cutânea.
  • A oxidação de ácidos graxos é inibida, e o fosfogliceraldeído é reduzido para glicerolfosfato, o qual, por sua vez, é esterificado com os ácidos graxos para formar os triacil-gliceróis, aumentando a lipemia e conduzindo à esteatose hepática.
  • No  caso  de  uma  intoxicação  mais  grave,  o  que  inclui  coma,  depressão  respiratória  e queda  no  volume  sanguíneo  efetivo  (devido  à  vasodilatação  periférica),  podem  resultar  hipóxia.
  • A elevada taxa de álcool no sangue inibe a síntese de ADH pelo hipotálamo provocando uma desidratação intensa.


COCAÍNA

A cocaína (benzoilmetilecgonina) – COC é um fármaco que pertence juntamente com a atropina e a escopolamina, à família dos alcalóides naturais tipo tropano. Tem fórmula empírica C17H21NO4.
Ocorre naturalmente nas folhas de plantas provenientes de duas espécies do gênero Erytroxylum sp, vulgarmente denominado coca, originário da América do Sul, e integra um conjunto de pelo menos 14 alcalóides biossintetizados por essas folhas.
A Erytroxylum novogranatense, variedade trujjilo, é cultivada legalmente no Peru e sua produção é destinada à indústria farmacêutica, sendo que as folhas remanescentes, descocainizadas, são utilizadas como flavorizante de refrigerantes. As folhas dessa variedade são também comercializadas sob a forma de “ervas”, acondicionadas em embalagens individuais de cerca de 5,0 g e se destinam à feitura de chá, referido como estimulante. Cada porção dessas folhas contém aproximadamente 5,0 mg de COC, quantidade suficiente para produzir alteração do humor e aumento da freqüência cardíaca.
A Erytroxylum coca é composta por folhas pequenas de 5,0 cm de comprimento, que contém entre 0,5 e 2,0% de COC, e constitui a principal fonte do tráfico ilícito. As folhas são maceradas e o fluido e as folhas descartados, deixando uma pasta grossa marrom (pasta de coca), que contém cocaína em forma básica na proporção de 70 a 85%. Esta constitui a forma de tráfico para laboratórios clandestinos.
A pasta é refinada, fornecendo pó branco, cristalino, geralmente na forma de cloridrato de cocaína, que é diluído com vários adulterantes, compondo-se assim a “droga de rua”. Os adulterantes mais comuns são açúcares, talco, anestésicos locais e sais de baixo custo, como bicarbonato de sódio e sulfato de magnésio, sendo os teores de COC variáveis entre 15 a 90%.
A cocaína é um anestésico local com propriedades simpatomiméticas. É um potente estimulante do SNC, efeito pelo qual é utilizada como fármaco de abuso.
O exato mecanismo fisiopatológico pelo qual ocorre esta ação estimulante central não é claro, porém, parece estar relativamente bem estabelecida a interferência com os sítios de atuação da dopamina, norepinefrina e serotonina.
A poderosa capacidade de produzir reforço positivo (efeito desejado) é atribuída à sua ação nas vias dopaminérgicas dos neurônios mesocorticais e mesolímbicos. Segundo modelos experimentais com animais, essas vias parecem estar envolvidas com os mecanismos da euforia e do comportamento compulsivo de busca ao fármaco, responsável pela auto-administração.
Se aceita que a euforia produzida pela COC se dê pelo acúmulo de dopamina nos receptores pós-sinápticos D1 e D2, devido ao bloqueio de recaptura pré-sináptica desse neurotransmissor, observado na presença do fármaco.
O mecanismo exato pelo qual ocorre esse bloqueio não está totalmente estabelecido. Porém, há evidências de que a COC se liga a sítios nos transportadores de dopamina.

EFEITOS

  • Pode ocorrer hipertermia grave, que excede 40°C, como resultado da estimulação do centro hipotalâmico regulador da temperatura e hiperatividade motora em combinação com vasoconstrição periférica que diminui a dissipação do calor. Essa hipertermia pode levar a convulsões secundárias.
  • A COC inicialmente estimula os centros bulbares da respiração, resultando num aumento da velocidade e profundidade da respiração, que caracteriza a hiperpneia. Na estimulação avançada ocorre cianose, dispneia, falência respiratória e apnéia, decorrentes da depressão dos centros bulbares.
  • Durante muito tempo se creditou o óbito à depressão respiratória, porém sabe-se atualmente que os efeitos letais da cocaína são devidos, principalmente, às suas ações no sistema cardiovascular e ocorrem independentemente da via de administração pela qual se dê a exposição.
  • A cardiotoxicidade apresentada pela cocaína pode resultar em infarto agudo do miocárdio, arritmias e cardiomiopatias.

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