TOXICOLOGIA
PROF. ANDRÉ FONSECA
Para Lauwerys, toxicologia
é a
ciência que se ocupa dos agentes tóxicos, enquanto para Loemis é o estudo das ações e efeitos nocivos de substâncias químicas sobre os sistemas biológicos, da probabilidade de suas ocorrências e dos limites máximos aceitáveis para a exposição dos sistemas biológicos às substâncias químicas.
É
toda
substância
exógena,
de
estrutura
química
definida,
que
quando
entra
em
contato
com
o organismo
pode
produzir
uma
ação
negativa ou deletéria, originando um desequilíbrio orgânico.
O
agente
tóxico
pode
ser
classificado
de
diversas
maneiras.
1.
Quanto
à origem
Pode
ser
classificada
em
animal,
vegetal e
mineral.
2. Quanto
ao
órgão
ou
sistema
em
que
promove
a ação
tóxica
Pode
ser
neurotóxico,
nefrotóxico,
cardiotóxico,
hepatotóxico
ou
hepatopático.
3.
Quanto
ao
tipo
de
efeito
Pode
ser
carcinogênico,
mutagênico
e teratogênico.
Cada
cultura apresenta um grupo de substâncias que alteram a fisiologia natural do
sistema biológico que são claramente permissivas para a sociedade. Neste grupo
estão inseridas a cafeína, a nicotina e o álcool.
Drogas
permissíveis
Nossa
atitude
com
relação
a essas
drogas
é de
uma
permissividade
quase
completa.
A cafeína é acessível às crianças sob a
forma de bebidas que contém cola (Cola sp. Planta cujas folhas são utilizadas como flavorizante em bebidas como a Coca-cola®, a Pepsi-cola®, e muitas outras, sendo por isso dado o sufixo cola ao nome dessas bebidas) e, aos adultos sob a mesma forma e, também nos muito difundidos
café e
chá. Como a
cafeína é
um estimulante
moderado, sua ação não é provavelmente perceptível durante o dia de trabalho; a cafeína não é considerada uma droga da maneira como, em geral, definimos este termo.
A
nicotina é
acessível em várias formas diferentes de tabaco, para não mencionarmos
as formas de administração intranasal
e bucal recentemente retomadas.
Enquanto que um campanha intensa está sendo custeada no momento para desencorajar
o uso de cigarros, campanha esta que obteve pouco sucesso até o presente momento, a objeção feita não se refere ao efeito da droga, mas à inalação de substâncias nocivas que acompanham a combustão do cigarro. Embora doses grandes, (de 60 mg) de nicotina, administrada
agudamente, pudessem matar um homem, as doses constantes, utilizadas por fumantes, e a tolerância desenvolvida, permitem que quantidades iguais ou maiores sejam utilizadas todos os dias com poucos efeitos fisiológicos. Enquanto que o hábito de fumar é
associado com um número cada vez maior de mortes causadas por doenças na artéria coronária, é questionável se os efeitos farmacológicos da nicotina dos cigarros contribuem de maneira direta para esse efeito nocivo. Portanto, esta droga também é considerada como inócua, da maneira como é, via de regra, usada.
A mais perigosa das drogas nacionais é, sem dúvida, o álcool etílico, o qual está disponível em uma grande variedade de bebidas. Esta droga induz o vício em todos os sentidos desta palavra. Aparentemente, a nossa sociedade valoriza os aspectos benéficos do uso de bebidas alcoólicas, mais do que teme as conseqüências maléficas,
pois elas são de fácil acesso a todos os adultos, em quantidades ilimitadas.
O
álcool é, primariamente, um depressor do sistema nervoso central (SNC). Produz desinibição suficiente para propiciar uma desenvoltura social desejada, embora esta seja atingida com prejuízo de certas funções. Poder-se-ia dizer muito a favor e contra o uso de bebidas alcoólicas, mas a verdade é que nós aceitamos o seu uso e os seus presumíveis benefícios, assim como os perigos do abuso. Nunca se fez uma campanha séria e objetiva contra o uso de bebidas alcoólicas igual a que o Ministério da Saúde patrocina contra o cigarro, por quê?
Drogas
prescritivas
Dentro desta categoria seriam classificadas aquelas drogas cujo uso terapêutico advém de seus efeitos principais. Como tais, elas são obtidas com facilidade
quando procuradas
nos estabelecimentos farmacêuticos, pois geralmente são de venda livre, ou quando prescritas
pelos médicos. As drogas deste tipo constituem
algumas das mais amplamente
vendidas no comércio farmacêutico
ou mais prescritas e consumidas
no Brasil e toda a parte do mundo.
Os analgésicos opiáceos estão entre as drogas mais valiosas para a
prática clínica; nenhum médico imaginaria exercer sua função sem elas. Embora uma grande variedade de derivados naturais tenha sido extraída do ópio puro, e muitos análogos sintéticos tenham sido produzidos em laboratório, ainda assim os médicos encontram na prescrição de opiáceos a arma-secreta de seu arsenal terapêutico.
Os barbitúricos têm sido usados por mais de 75 anos, sendo que seu consumo anual no Brasil é medido em toneladas.
Essas drogas são consideradas úteis na prática clínica, e
provocam efeitos sedativos, hipnóticos, relaxantes musculares, anticonvulsivantes, pré-anestésicos e
anestésicos em formas diferentes e doses variáveis. Ainda hoje o diazepam ainda é a droga ansiolítica mais prescrita, apesar de todos os novos ansiolíticos não benzodiazepínicos mais específicos que estão surgindo no mercado.
As anfetaminas
têm sido usadas como estimulantes por mais de 40 anos, e como moderadores de
apetite por quase o mesmo tempo. Essas drogas são estimulantes potentes, comparada com a cafeína,
e produzem fortes efeitos simpatomiméticos. Na prática clínica atual, elas têm sido usadas como maior freqüência como moderadores de apetite. Vários análogos de anfetamina foram produzidos para esse fim: fenmtrazina, dietilpropiona, mazidol, anfepramona, e outras.
Drogas controladas
Este grupo de drogas inclui aquelas que foram colocadas sob controle especial, devido a uma grande freqüência de usos ilícitos ou ilegais. No momento, a situação vem se alterando com rapidez, devido a
recentes leis que aumentaram
essa lista de drogas controladas, em especial, as portarias 27/86 e 28/86, esta última se dividindo em 28A, que trata de fármacos entorpecentes como a morfina, petidina,
anfepramona, mazidol, etc. e
28B, que trata de medicamentos psicoativos mais potentes que os da portaria 27/86 e menos ativos que os da 28A/86, que regulamentam a produção, prescrição, comercialização e dispensação de drogas psicoativas e que aumenta todo ano com o lançamento de novas drogas no mercado.
HEROÍNA E OUTROS
OPIÁCEOS
Embora a heroína seja a
mais conhecida de todos os opiáceos que induzem vícios, outras drogas que possuem muitas de suas propriedades farmacológicas
também podem estar sujeitas ao abuso. Centenas de milhares de doses de morfina são administradas diariamente com fins terapêuticos, com poucos problemas de abuso. Drogas sintéticas semelhantes
aos opiáceos são
representadas de maneira fundamental pela Petidina (também chamada de Meperidina), Pentazocina, Metadona e propoxifeno.
A maioria dos opiáceos sintéticos foi introduzida como narcóticos menos propensos a causar vício. No caso da petidina esta idéia foi rapidamente
abandonada, embora o seu uso tenha sido bastante restringido àqueles com acesso fácil à droga, tais como médicos, enfermeiros e outras pessoas ligadas à saúde. A pentazocina representa o resultado básico de uma longa pesquisa de drogas com ações mistas agonista - antagonista, que apresenta um menor potencial de abuso. Até certo ponto esta expectativa foi confirmada; grandes doses da droga tendem a produzir reações desagradáveis do tipo alucinógenas; os poucos casos de dependência da pentazocina têm sido moderados. A metadona é um narcótico potente, bastante útil como substituto da morfina quando os pacientes são intolerantes a esta última droga. Ela é
altamente viciante. O propoxifeno
é muito semelhante, em termos químicos, à metadona. A despeito de um merecido uso clínico generalizado, casos de abuso são bastante raros e são, indubitavelmente, causados pela sua extrema falta de potência.
O uso
difundido
do
ópio
no
tratamento
de
ferimentos
durante
a guerra
civil norte-
americana (a guerra
de
sesseção)
levou
à primeira
de
muita
epidemias
de
seu
uso.
Foi
estimado
que
4%
dos
norte- americanos usou ópio durante o
período pós-guerra
civil. No período imediatamente anterior à primeira guerra
mundial, a
estimativa tinha diiminuído em 1 usuário para cada grupo de 400 pessoas adultas (0,0025%).
EFEITOS
- Assim como a maioria das drogas, a duração da ação depende até certo ponto da dose, sendo que as doses populares duram de 3 a 5 horas. Assim, o viciado nunca está muito distante dos sintomas da síndrome de abstinência.
- Elevação do limiar da dor, o que dá ao toxicômano a “coragem” necessária para enfrentar tudo o que for preciso para dar seus “vôos”.
- Alterações psíquicas, fazendo desaparecer o medo, ansiedade e apreensão.
- De acordo com a dose, pode produzir desde sono, até insônia pronunciada.
- A principal conseqüência, ou melhor, dizendo, o principal e mais acentuado efeito é a miose que, quando do uso da heroína, a pupila fica do tamanho da cabeça de um alfinete. Além da miose, se pode observar também ligeira hipotensão ocular.
- O problema da heroína não está no aumento ou diminuição da libido, mas sim na despersonalização tão pronunciada.
ÁLCOOL ETÍLICO
O Etanol ou álcool (álcool de cereais) é conhecido em quase todas as mundo, desde a pré-história. É
formado
naturalmente
através
da
fermentação
do
levedo
do
amido
ou
do
açúcar
de
frutas, cereais, batatas ou cana-de-açúcar e,
em muitos
países, a
lei permite o uso somente de álcool de origem natural quando destinado a
consumo humano. O etanol para uso industrial é produzido principalmente por síntese orgânica a partir do etileno.
Embora
o conhaque e o uísque fossem antigamente considerados “estimulantes”, o álcool é, na verdade, um hipnótico e uma droga anestésica.
É pouquíssimo usado em farmacoterapia, exceto como solvente para algumas drogas administradas na forma líquida, na produção dos florais de Bach, nos quais também se usa o conhaque e em homeopatia, onde o veículo mais utilizado para fazer as dinamizações é o álcool etílico.
A absorção
é limitada
e pode
aumenta
devido
à irritação
da
mucosa
produzida
pelo
álcool
e pelo
esvaziamento gástrico, ou seja: de estômago vazio, a absorção é maior. A absorção também depende da natureza do alimento ingerido junto com o álcool, e ainda, da velocidade com que a pessoa ingere a bebida. Inicia-se 4 a 5 minutos após a ingestão, sendo absorvido nas seguintes proporções: aproximadamente 20% pelo estômago e os 80% restantes pelo intestino.
EFEITOS
- O álcool inibe a gliconeogênese e produz uma hipoglicemia acentuada e por isso o alcoólatra acorda com tremor que vai de moderado a acentuado.
- Em pequenas doses, o álcool deprime o sistema reticular, desequilibrando o comportamento. Em altas doses provoca uma depressão acentuada, diminui a regulação térmica, produz vasodilatação cutânea.
- A oxidação de ácidos graxos é inibida, e o fosfogliceraldeído é reduzido para glicerolfosfato, o qual, por sua vez, é esterificado com os ácidos graxos para formar os triacil-gliceróis, aumentando a lipemia e conduzindo à esteatose hepática.
- No caso de uma intoxicação mais grave, o que inclui coma, depressão respiratória e queda no volume sanguíneo efetivo (devido à vasodilatação periférica), podem resultar hipóxia.
- A elevada taxa de álcool no sangue inibe a síntese de ADH pelo hipotálamo provocando uma desidratação intensa.
COCAÍNA
A
cocaína (benzoilmetilecgonina) – COC é um fármaco que pertence juntamente com a
atropina e a escopolamina, à família dos alcalóides naturais tipo tropano. Tem
fórmula empírica C17H21NO4.
Ocorre
naturalmente nas folhas de plantas provenientes de duas espécies do gênero Erytroxylum
sp, vulgarmente denominado coca, originário da América do Sul, e integra um
conjunto de pelo menos 14 alcalóides biossintetizados por essas folhas.
A Erytroxylum
novogranatense, variedade trujjilo, é cultivada legalmente no Peru e
sua produção é destinada à indústria farmacêutica, sendo que as folhas
remanescentes, descocainizadas, são utilizadas como flavorizante de
refrigerantes. As folhas dessa variedade são também comercializadas sob a forma
de “ervas”, acondicionadas em embalagens individuais de cerca de 5,0 g e se
destinam à feitura de chá, referido como estimulante. Cada porção dessas folhas
contém aproximadamente 5,0 mg de COC, quantidade suficiente para produzir
alteração do humor e aumento da freqüência cardíaca.
A Erytroxylum
coca é composta por folhas pequenas de 5,0 cm de comprimento, que contém
entre 0,5 e 2,0% de COC, e constitui a principal fonte do tráfico ilícito. As
folhas são maceradas e o fluido e as folhas descartados, deixando uma pasta
grossa marrom (pasta de coca), que contém cocaína em forma básica na proporção
de 70 a 85%. Esta constitui a forma de tráfico para laboratórios clandestinos.
A pasta
é refinada, fornecendo pó branco, cristalino, geralmente na forma de cloridrato
de cocaína, que é diluído com vários adulterantes, compondo-se assim a “droga
de rua”. Os adulterantes mais comuns são açúcares, talco, anestésicos locais e
sais de baixo custo, como bicarbonato de sódio e sulfato de magnésio, sendo os
teores de COC variáveis entre 15 a 90%.
A
cocaína é um anestésico local com propriedades simpatomiméticas. É um potente
estimulante do SNC, efeito pelo qual é utilizada como fármaco de abuso.
O exato
mecanismo fisiopatológico pelo qual ocorre esta ação estimulante central não é
claro, porém, parece estar relativamente bem estabelecida a interferência com
os sítios de atuação da dopamina, norepinefrina e serotonina.
A
poderosa capacidade de produzir reforço positivo (efeito desejado) é atribuída
à sua ação nas vias dopaminérgicas dos neurônios mesocorticais e mesolímbicos.
Segundo modelos experimentais com animais, essas vias parecem estar envolvidas
com os mecanismos da euforia e do comportamento compulsivo de busca ao fármaco,
responsável pela auto-administração.
Se
aceita que a euforia produzida pela COC se dê pelo acúmulo de dopamina nos
receptores pós-sinápticos D1 e D2, devido ao bloqueio de recaptura
pré-sináptica desse neurotransmissor, observado na presença do fármaco.
O
mecanismo exato pelo qual ocorre esse bloqueio não está totalmente
estabelecido. Porém, há evidências de que a COC se liga a sítios nos
transportadores de dopamina.
EFEITOS
- Pode ocorrer hipertermia grave, que excede 40°C, como resultado da estimulação do centro hipotalâmico regulador da temperatura e hiperatividade motora em combinação com vasoconstrição periférica que diminui a dissipação do calor. Essa hipertermia pode levar a convulsões secundárias.
- A COC inicialmente estimula os centros bulbares da respiração, resultando num aumento da velocidade e profundidade da respiração, que caracteriza a hiperpneia. Na estimulação avançada ocorre cianose, dispneia, falência respiratória e apnéia, decorrentes da depressão dos centros bulbares.
- Durante muito tempo se creditou o óbito à depressão respiratória, porém sabe-se atualmente que os efeitos letais da cocaína são devidos, principalmente, às suas ações no sistema cardiovascular e ocorrem independentemente da via de administração pela qual se dê a exposição.
- A cardiotoxicidade apresentada pela cocaína pode resultar em infarto agudo do miocárdio, arritmias e cardiomiopatias.
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