Em nossa civilização há uma tendência cada vez maior de se desenvolverem doenças no tubo digestivo, tendo em vista o estresse pela competitividade, a vida nas grandes cidades, a violência, o trânsito nas capitais, e pela própria alimentação. Hoje são numerosos os quiosques de comidas e refrigerantes espalhados por todos os cantos das cidades, e as lanchonetes e pizzarias instalados nos shoppings e nas regiões de grande afluxo da população.
"É claro
que me refiro ao hábito crônico de tomar refeições às pressas, muito temperadas
e com muito sal", diz o Dr. Adilson Savi, professor e patologista do
Hospital Semper, de Belo Horizonte, que comenta ainda "que isto já seria o
bastante para o desenvolvimento de gastrites, úlceras gástricas e duodenais e, em
longo prazo, também câncer".
O
especialista explica que há poucos anos foi descoberta uma bactéria, hoje
conhecida como Helicobacter pylori
(HP), nome final que lhe foi dado em 1989. As pesquisas sobre essa bactéria não param de ser produzidas, tal a importância que
veio adquirir como agente causador das gastrites e da úlcera gástrica. Essa bactéria é encontrada em todo o mundo, infectando pessoas de
todas as idades, sobretudo as de baixo nível socioeconômico e pouca higiene,
podendo ser transmitida das mães para os filhos.
As
crianças são particularmente sensíveis à infecção pelo HP. Ele pode ser transmitido pela água e de
pessoa para pessoa, havendo provas indiretas dessa transmissão pela presença do
microrganismo entre os gastroenterologistas, entre os residentes dos asilos e
das creches, orfanatos, em famílias inteiras e até nas tripulações de
submarinos. A prevalência da infecção aumenta à taxa de 1% ao ano na
população em geral. Sabe-se que nos países industrializados, em torno de 50% a
60% das pessoas, com mais de 60 anos, estão infectados.
O Dr.
Adilson Savi enfatiza que a prevalência é maior nos países muito desenvolvidos,
chegando a 75% de indivíduos contaminados em torno dos 25 anos de idade. As
pessoas negras são aparentemente mais susceptíveis.
A bactéria resiste aos tratamentos com muita frequência e pode
permanecer em reserva nas placas dentárias, por exemplo, vindo à re-infectar o
indivíduo uma vez cessado o tratamento. A bactéria é facilmente identificada pelos métodos
laboratoriais, sobretudo na superfície das células da mucosa gástrica às quais
se adere, e pode ser observada em colorações de rotina ou por colorações
especiais, como o Giemsa, por sais de prata, pelo Gram e pela Carbol-Fucsina. À
microscopia eletrônica mostra-se com flagelos em um dos polos. Sua grande
capacidade metabólica a faz produzir várias enzimas, que lesam as superfícies
das células, desestabilizando o epitélio e a barreira protetora de muco, facilitando
a ação de outros agentes como ácido clorídrico e a pepsina, explica.
O
organismo reage à bactéria como neutrófilos migrantes pelo
epitélio em exocitose, acumulando-se nas luzes glandulares do estômago, formando
abscessos. Os neutrófilos também liberam enzimas que se somam aos agentes
anteriores para a lise das células. Fragilizando as ligações intercelulares, o
HP penetra os espaços entre as células e gera uma resposta inflamatória – a
gastrite. Há uma resposta imunológica que (por azar) pode ser cruzada e agredir
as células da mucosa gástrica e levar a uma gastrite autoimune. Dessa maneira o HP tem um papel muito
importante no desenvolvimento de graves doenças gástricas, desde a gastrite
aguda, crônica, crônica ativa, gastrite folicular, atrófica, ulcera
gástrica e duodenal, adenocarcinoma e linfoma gástricos.
O
aparecimento da gastrite, úlcera ou câncer depende da cepa do HP, da sua virulência, da
susceptibilidade do paciente e da interação bactéria/portador. A possibilidade
da produção de oxidantes pode alterar os genes das células epiteliais, gerar
mutações e originar câncer. Assim, a descoberta dessa bactéria veio solucionar um problema
antigo da gastrenterologia, já que sua erradicação (com uso associado de
antibióticos e drogas de ação local) permite ao portador uma vida saudável, sem
as dores e os incômodos das doenças que o HP produz.
Procurar um médico é uma solução mais inteligente do que fazer automedicação, por exemplo, de antiácidos paliativos. "Os recursos da medicina atual permitem com toda facilidade diagnosticar a condição, identificar o HP e com o tratamento adequado erradicá-lo", ratifica o médico.
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